Nippon... derando

Friday, September 01, 2006

Um país seguro? (*)

Dia 20 último completaram-se três anos do ataque com gás sarin no sistema de metrô de Tóquio, que matou 11 pesso­as e provocou a internação de centenas outras com problemas respiratórios. O ataque em si provocou uma onda de terror e ira em toda a nação. Descobriu­-se mais tarde que o crime foi perpetrado por religiosos fanáticos da seita chamada de Aum Shinrikyo com o objetivo único de cau­sar terror e confusão na sociedade japo­nesa.

O ataque com gás sarin foi um marco na história do Japão. Até então, os japoneses, em geral, viam seu país como um lugar seguro de se viver. O incidente é, até hoje, uma pedra no sapato da polícia japonesa, que por muito tempo se orgulhava da excelente segurança da nação. Tal mito da segurança foi destruído pelo ataque. As pessoas hoje têm apenas um vago senso de incerteza.

No caso específico do ataque com gás sarin, muitos se perguntam por que tal crime foi perpetrado. A estagnação econômica, a instabilidade política e a confusão nos valores sociais são algumas das causas sublinhadas do terrorismo. O indiscriminado ataque bem no meio de uma das maiores capitais do mundo indica que a sociedade japonesa, orgulhosa de sua segurança, está mudando gradualmente.

Quando vim para o Japão, as compara­ções com o Brasil em relação à segurança foram inevitáveis. Depois do ataque com gás sarin, minha cabeça está martelando o real significado da palavra “segurança”. Afinal, o que é um país seguro de verdade? Será que a segurança se reflete apenas no número de armas de fogo ou de criminosos, à frequência do crime violento, ou talvez à por­centagem de produtos que ingerimos e que provocam câncer? À rapidez dos esforços da Defesa Civil de resgatar-nos em caso de desastres naturais? À freqüência pela qual aconte­cem esses mesmos desastres? À garantia dos direitos humanos básicos, como a busca da felicidade, à igualdade de oportunidades e o direito de votar?

Depois do terremoto de Kobe e do episó­dio com gás sarin, o mito “o Japão é um país seguro” não soa tão confortável assim. Encarar a realidade pode mostrar ser mais compensador, principalmente depois que descermos do avião no aeroporto de Guarulhos, ao fazermos o caminho de volta.

(*) Crônica de Levi F. Araújo publicada originalmente na coluna Nipponderando do jornal Nova Visão do Japão do dia 29 de março de 1998.

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