Nippon... derando

Friday, September 01, 2006

Brasileiros estão descobrindo o sunako (*)

Depois de uma semana de traba­lho árduo, nada mais justo que um merecido descanso, o chamado "re­pouso do guerreiro", acompanhado de um pouco de lazer. E, quando se fala em lazer para brasileiros no Ja­pão, muita gente está associando as atividades noturnas dos sunako com muitos brasileiros ávidos por sexo e companhia feminina.

A palavra sunako vem da ex­pressão inglesa snack, que quer di­zer lanche. São muito comuns nos Estados Unidos os snack bars, ou lanchonetes, onde se pode degustar diversos tipos de lanches e até bebericar uma cervejinha. Os japoneses emprestaram o ter­mo dos americanos e fizeram algu­mas adaptações, tanto na forma de atendimento em tais estabelecimen­tos, como na decoração do ambien­te. Assim, o interior de um sunako normalmente é pouco iluminado, facilitando algumas intimidades en­tre clientes e acompanhantes. Com algumas mesas dispostas de forma estratégica, rodeadas de confortá­veis poltronas ou sofás, o ambiente não deixa de ser acolhedor.

O objetivo é criar uma atmosfera alegre, descontraída, aconchegante, mesclada com uma pitada de intimi­dade, na tentativa de vencer a concorrência acirrada, ao mesmo tempo em que se procura “segurar” os clientes habituais, que quase todos os dias deixam uma parcela do seu salário mensal nesse tipo de estabele­cimento.

Os brasileiros no Japão estão per­cebendo no sunako uma solução para a sua solidão, o fim da sua abstinên­cia sexual. Mas, como não poderia deixar de ser, tal solução tem seu preço, literalmente falando. Assim, muitos que trabalham duro durante um mês para ganhar ¥300 mil, por exemplo, estão deixando o salário em apenas duas ou três visitas aos sunakos da região onde moram.

Os gerentes de tais estabeleci­mentos, com um olho na crise e outro no mais novo filão que se abre, estão escancarando as portas para os brasileiros, trabalhadores reconhe­cidamente os mais bem pagos do país e com fama de gastadores con­tumazes.

Não é preciso dizer que tudo o que se consome em um sunako é bem mais caro, ou até mais que o dobro, daquilo que se paga nos esta­belecimentos convencionais. Assim, uma cerveja de 500 ml pode custar de ¥600 a ¥800, enquanto num su­permercado não custa mais que ¥330.

Diferente dos snack bars dos Estados Unidos, onde o cliente normalmente pede uísque em doses, nos sunakos japoneses o uísque é servido por garrafa, em cujo gargalo vem pendu­rada uma plaquinha com um nome pelo qual o cliente é conhecido no estabelecimento. Tal regalia não sai­rá por menos de ¥5.000. Assim, o cliente que se senta a uma mesa é logo rodeado de mulheres que o encorajam a beber, pois a fonte maior de lucro dos sunakos está no consumo de bebida por parte dos clientes.

Por que esses estabelecimentos são tão freqüentados, apesar dos pre­ços extorsivos? Uma explicação básica tem muito a ver com a índole vaidosa do ser humano. O sunako é aquele lugar onde qualquer homem com algum dinheiro no bolso se sente um rei, tendo ao seu lado várias acompa­nhantes que são ensinadas a servi-lo com certa submissão, a diverti-lo, a ouvir atentamente suas lamúrias, a aturá-lo quando fica bêbado, e a fazê-lo sentir-se como se ele fosse realmente muito importante - nem que seja apenas por algumas horas.

Dependendo do cliente, de quan­to ele costuma gastar ou da assidui­dade ao estabelecimento, há até al­gumas regalias a mais, chegando a ser levado de táxi para casa com direito a acompanhante. Mesmo porque, a essa altura do campeonato, ele está tão bêbado que não consegue andar dois passos sem voltar três. Dirigir, então, nem pensar!

Mas que não se iludam os marinheiros de primeira viagem. Quem pensa em ir a um sunako e “arrastar” uma das meninas logo na sua primeira visita, pode ir tirando o cavalinho da chuva. O conselho é de Fábio Eduardo Matsuda, 22, considerado um “piolho” de sunako, apesar da pouca idade. “Se a intenção for claramente esta, a de sair de sair com uma das meninas do sunako, o cliente terá que freqüentar a casa pelo menos três vezes antes de sua acompanhante preferida receber o sinal verde da mama para sair com ele”, orienta Fábio com certo, digamos, conhecimento de causa.

A “mama” a que Fábio se refere é, no caso, uma mulher, geralmente mais velha que as acompanhantes, responsável pelo estabelecimento e pelas meninas. Assim, nas três visitas que fizer ao sunako, o cliente terá que desembolsar pelo menos ¥100 mil em bebidas e salgadinhos antes de ser “notado” pela “mama”. Portanto, só mesmo quando estiver familiarizado com o pessoal da casa é que terá condições de se aproximar de uma das meninas para dar a “cantada final”, arremata Fábio.

Fábio sabe do que está falando, pois freqüenta vários sunakos espalhados na província de Gifu. Em todos ele é conhecido pelo seu segundo nome, Eduardo, por essa forma se aproximar mais do inglês, “Edward”. Sua popularidade é tanta entre as meninas que ele até tem crédito nas casas que freqüenta. “Mesmo quando não tenho dinheiro, não deixo de vir, pois a mama sabe que eu sempre volto para pagar quando fico devendo”, afirma, orgulhoso.

Outro amigo de Fábio, conhecido por Nelsinho, mais velho que ele (39), é do tipo mineiro, aquele que “sorve um prato de sopa bem quente pelas beiradas”. Quando Nelsinho começa a freqüentar um sunako, suas primeiras visitas visam apenas estudar os diversos tipos de meninas que atuam no estabelecimento, para depois escolher aquela que irá “arrastar” para casa. “Não gosto de mulheres extravagantes, aquelas que se abrem à toa para os clientes. Prefiro as mais recatadas”, confessa.

Os sunakos cumprem, reconhecidamente, uma função social importante na vida de muitos aqui no Japão, sejam estrangeiros ou japoneses. Hoje, as visitas quase diárias a um sunako preferido faz parte principalmente da vida de milhões de sararimen, os trabalhadores engravatados de escritório que, após o expediente normal de trabalho, dão uma esticadinha até tais estabelecimentos antes de voltar para casa.

A finalidade dessas visitas é a confraternização entre colegas de trabalho, a busca do alívio das tensões acumuladas durante o dia e uma oportunidade para reforçar aquela péssima imagem que todos têm do chefe em comum. Para atingirem esse objetivo, os japoneses se encharcam de cerveja e uísque, o que proporcionam a eles coragem suficiente para falar mal do chefe e até bolinarem as companion, as mulheres especialmente contratadas para servirem bebidas e divertir os clientes.

Como não poderia deixar de ser, o brasileiro, de uma forma geral, tem outra visão desse tipo de entretenimento. Assim, a conotação sexual associada ao sunako é inevitável, devido à forma um tanto íntima pela qual as mulheres atendem os clientes em tais estabelecimentos.

Naturalmente que há várias classes de sunako, desde os mais simples, nos quais os clientes são servidos num balcão por mulheres que estão do outro lado, e nas quais não pode tocar, até aqueles onde as atendentes são estrangeiras, mais liberais, e que sentam no colo dos clientes e até topam fazer programas depois do expediente.

É exatamente esse último tipo de sunako para onde estão afluindo os solitários brasileiros, sedentos de sexo ou buscando apenas companhia nas suas horas de folga, mas envoltos em barreiras (principalmente as da língua – a maioria não fala japonês, muito menos o inglês) que os impedem de aprofundar num relacionamento com pessoas do sexo oposto, sejam elas japonesas, americanas, filipinas ou de outras nacionalidades das que proliferam aqui no Japão. Posso afirmar, com certeza, que foram tais barreiras que levaram o brasileiro Maeda a matar uma japonesa quando ela se encontrava dormindo casa.

(*) Reportagem de Levi F. Araújo publicada originalmente no jornal Nova Visão do Japão de 24 de agosto de 1997.

5 Comments:

  • At 1:57 AM, Anonymous Anonymous said…

    sou frequentador de sunako ja fazem 1 ano e meio e aconselho os brasileiros a frequentarem tbm esse tipo de estabelecimento.
    um lugar pra se relachar e se divertir,parabens pela reportagem,muito ultil e informativa.

     
  • At 5:44 PM, Blogger Unknown said…

    This comment has been removed by the author.

     
  • At 5:57 PM, Blogger Unknown said…

    This comment has been removed by the author.

     
  • At 10:51 AM, Blogger karlos said…

    kkkk perfeito explicou todos acredito nos mínimos detalhes

     
  • At 8:29 AM, Blogger dono de sunaku said…

    nossa muito mal explicado, primeiramente SUNAKU se escreve com u e nao O, segundo Sunaku de verdade geralmente eh bem iluminado e os clientes nao tem contato com o atendente ( o bar do moe dos simpsons no Japão seria chamado de sunaku), esse tipo de estabelecimento q voce descreveu se chama pub ou lounge no Japão. nao culpo a maioria dos brasileiros ignoram as classificações.terceiro essa de ir no minimo de 3 vezes nao tem nada haver, isso eh coisa de quem nao sabe conversa direito com a menina.

     

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