Nippon... derando

Friday, September 01, 2006

Pais confiantes de meninas recatadas (*)

O Japão se transforma com muita rapidez e, da mesma forma, o comportamento das mulheres. Essas mulheres, japonesas na faixa dos 20 anos, estão mudando seu estilo de vida. A maioria é composta de moças comuns, que trabalham ou estudam durante a semana mas que, quando chega na sexta-feira, se transformam completamente, revelando sua verdadeira identidade. Durante a semana, vivem suas vidas conscientes do que outras pessoas pensam a seu respeito.

Por exemplo, uma mulher no Japão nunca usaria a mesma roupa dois dias consecutivos por medo de que outras pessoas possam pensar que ela esteve dormindo fora. Exatamente porque as garotas japonesas se preocupam com o que outras pessoas na sua vizinhança ou na sociedade, como um todo, estão pensando, é que elas não se sentem livres para sair e se relaxarem. Esse modo de enxergar as coisas está mudando radicalmente por parte de muitas mulheres mais, digamos, liberais.

Talvez por terem estado sob pressão durante muitos anos, essas mulheres, quando têm uma oportunidade, se liberam completamente, fugindo das pressões que as rodeiam. São como crianças fugindo dos severos pais.

Os pais, aliás, nem imaginam para onde vão suas filhas à noite. Para eles, as meninas estão fazendo trabalho escolar com outras colegas, ou dormindo inocentemente na casa de alguma amiga, depois do serviço. Para elas, que mal conseguem esperar o fim de semana, não há nada de errado em usar roupas provocantes, maquiagem supercarregada e cair na farra em qualquer balada bem discreta. Nesse festival exibicionista, marcado pelo hedonismo, o que vale mesmo é a fuga da realidade. Depois de uma noitada, “com a cabeça e o corpo bem leves”, partem para outras aventuras na companhia de namorados que arranjaram ali mesmo, na balada. Na volta para casa, escondem dos pais e dos irmãos a roupa usada para dançar e farrear, e só as lavam quando não há ninguém em casa.

Na segunda-feira começa tudo outra vez. No instante em que entram na escola ou no escritório, elas se tornam pessoas diferentes, recatadas e tímidas.Nessas ocasiões, as esfuziantes e provocantes japonesas de algumas horas atrás, que requebravam o corpo e meneavam a cabeça ao som de delirante música techno, parecem tão inocentes e ingênuas que dão a impressão de que quebrariam se alguém as tocasse. São como bonecas, que mudam de expressão por se apertar um botão.

(*) Crônica de Levi F. Araújo publicado originalmente no jornal Folha Mundial do Japão em 24 de outubro de 1993

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