A arte de cultivar alunos-bonsai (*)
Bonsai (árvores anãs) é uma forma de arte de cultivo que se desenvolveu no Japão. Consiste em plantar uma árvore em vaso de cerâmica para, através de um processo de cultivo que extrai a força vital da planta, produzir ou acentuar uma elegância natural de forma agradável aos olhos.
Plantas comuns já transformadas em bonsai só podem ser apreciadas por um curto período de tempo mas, normalmente, há árvores bonsai que podem durar por períodos que variam de décadas a séculos, ganhando gradualmente características à medida em que envelhecem. Métodos especiais de cultivo são usados para se conseguir as formas desejadas.
A essência dessa arte de cultivo consiste em controlar habilmente o crescimento da árvore através de técnicas que reprimem o crescimento natural da árvore, a qual é periodicamente retransplantada, ao mesmo tempo em que suas raízes são podadas.
Muitos japoneses gostam de cultivar ameixeiras ou pinheiros em forma de bonsai. Se se parasse para pensar nessa forma de arte, muita gente acharia o cultivo do bonsai uma coisa detestável. Para conseguir as formas ideais, a árvore precisa ser amarrada com arames e os ramos periodicamente podados, numa tortura sem fim. Dá a impressão que a árvore não respira direito, e que é uma pena não deixá-la crescer de forma natural.
Assim, o bonsai nos remete à figura do estudante de 15 anos que confessou ter decapitado um menino em Kobe, além de matar outra menina e ferir outros três, todos estudantes do primário, no período compreendido entre fevereiro e maio últimos (1997). Agora que fortes evidências que ligam o suspeito aos crimes foram estabelecidas, a polícia pretende determinar o estado mental do menino à época dos ataques.
Mas, o que o bonsai tem a ver com isso? Acontece que o bonsai lembra nos remete ao sistema educacional nas escolas japonesas. Professores japoneses normalmente tentam disciplinar os alunos visando criar um “estudante-padrão” idealizado. As formas dessa disciplina variam desde a imposição do corte de cabelo em estilo militar até restrições quanto ao uso das calças e saias dos uniformes. Se um estudante corta ou pinta o cabelo, os professores o punem, com certeza.
Cabelo comprido ou tingido, ou mesmo roupas consideradas extravagantes, podem causar impressão do lado de fora da escola. Mas obrigar o aluno a obedecer tais regulamentos irá fazer com que ele melhore suas notas ou ficar mais inteligente? As evidências mostram o resultado de tais imposições.
Os responsáveis pelo sistema educacional no Japão parecem estar mais preocupados com o padrão de “decência” do que propriamente em ensinar. Com isso, acabam produzindo estudantes-bonsai. As árvores bonsai podem até ser mais bonitas do que as de uma floresta de tamanho natural. Mas as primeiras estão ansiosas para espalharem seus ramos e crescer. Os estudantes japoneses devem estar se sentindo da mesma forma perante seus professores.
(*) Texto de Levi F. Araújo publicado originalmente no jornal Nova Visão do Japão como editorial do dia 10 de agosto de 1997.
Bonsai (árvores anãs) é uma forma de arte de cultivo que se desenvolveu no Japão. Consiste em plantar uma árvore em vaso de cerâmica para, através de um processo de cultivo que extrai a força vital da planta, produzir ou acentuar uma elegância natural de forma agradável aos olhos.
Plantas comuns já transformadas em bonsai só podem ser apreciadas por um curto período de tempo mas, normalmente, há árvores bonsai que podem durar por períodos que variam de décadas a séculos, ganhando gradualmente características à medida em que envelhecem. Métodos especiais de cultivo são usados para se conseguir as formas desejadas.
A essência dessa arte de cultivo consiste em controlar habilmente o crescimento da árvore através de técnicas que reprimem o crescimento natural da árvore, a qual é periodicamente retransplantada, ao mesmo tempo em que suas raízes são podadas.
Muitos japoneses gostam de cultivar ameixeiras ou pinheiros em forma de bonsai. Se se parasse para pensar nessa forma de arte, muita gente acharia o cultivo do bonsai uma coisa detestável. Para conseguir as formas ideais, a árvore precisa ser amarrada com arames e os ramos periodicamente podados, numa tortura sem fim. Dá a impressão que a árvore não respira direito, e que é uma pena não deixá-la crescer de forma natural.
Assim, o bonsai nos remete à figura do estudante de 15 anos que confessou ter decapitado um menino em Kobe, além de matar outra menina e ferir outros três, todos estudantes do primário, no período compreendido entre fevereiro e maio últimos (1997). Agora que fortes evidências que ligam o suspeito aos crimes foram estabelecidas, a polícia pretende determinar o estado mental do menino à época dos ataques.
Mas, o que o bonsai tem a ver com isso? Acontece que o bonsai lembra nos remete ao sistema educacional nas escolas japonesas. Professores japoneses normalmente tentam disciplinar os alunos visando criar um “estudante-padrão” idealizado. As formas dessa disciplina variam desde a imposição do corte de cabelo em estilo militar até restrições quanto ao uso das calças e saias dos uniformes. Se um estudante corta ou pinta o cabelo, os professores o punem, com certeza.
Cabelo comprido ou tingido, ou mesmo roupas consideradas extravagantes, podem causar impressão do lado de fora da escola. Mas obrigar o aluno a obedecer tais regulamentos irá fazer com que ele melhore suas notas ou ficar mais inteligente? As evidências mostram o resultado de tais imposições.
Os responsáveis pelo sistema educacional no Japão parecem estar mais preocupados com o padrão de “decência” do que propriamente em ensinar. Com isso, acabam produzindo estudantes-bonsai. As árvores bonsai podem até ser mais bonitas do que as de uma floresta de tamanho natural. Mas as primeiras estão ansiosas para espalharem seus ramos e crescer. Os estudantes japoneses devem estar se sentindo da mesma forma perante seus professores.
(*) Texto de Levi F. Araújo publicado originalmente no jornal Nova Visão do Japão como editorial do dia 10 de agosto de 1997.
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