Ressurge a xenofobia (*)
Mais uma vez, a cidade de Hamamatsu, na província de Shizuoka, se transforma em palco para mais um espetáculo xenófobo. O último (?) caso, no qual Ana Bortz entra com processo contra o proprietário da joalheria por ter sido expulsa de sua loja pelo simples fato de ser brasileira, foi manchete desta semana em, pelo menos, dois dos "nossos" jornais daqui.
O caso em questão foi destaque na TV e em vários jornais japoneses, pelo ineditismo como a questão foi tratada. Ana Bortz é a primeira pessoa física, no Japão, a entrar com processo na Justiça contra outra alegando discriminação. Estamos aguardando ansiosamente o desenrolar dos acontecimentos com a expectativa de que se faça justiça.
Não há nada que crie, mais rapidamente, um muro de suspeita e intolerância entre o cidadão local e o estrangeiro do que o cego preconceito. Mal-entendidos e noções preconcebidas sobre outras nacionalidades, não raro, se baseiam em ficção em vez de em fatos. Os japoneses, em geral, parecem desconhecer o fato que o estreito contato com pessoas de outras culturas é recomendado como o melhor remédio contra o preconceito e a intolerância. Questão de política de boa vizinhança.
No entanto, até mesmo algumas autoridades admitem claramente que seguem uma política de exclusão. Por exemplo, quando o Conselho de Cidadãos de Hamamatsu ergueu o estandarte em defesa do direito dos estrangeiros ao kokumin hoken, o seguro-saúde emitido pela prefeitura, um vereador esbravejou contra: “Se não estão contentes, que tomem o avião de volta para seu país”. Parece que não querem que nos sintamos bem aqui, porque querem que voltemos para o lugar de onde viemos.
Os japoneses, de uma forma geral, não querem reconhecer que estamos aqui para formarmos novos laços para o futuro, e que estamos enfrentando o doloroso processo de sarar as feridas de nossas raízes cortadas, ao mesmo tempo em que carregamos a imensa tarefa de aprender uma nova língua. Cercados de tais sentimentos alienígenas, não é de admirar que nós, estrangeiros, enfrentemos uma muralha de preconceito da parte de lojistas locais que se sentem ameaçados pelo súbito influxo de estrangeiros.
Por causa da nossa condição de estrangeiros, sofremos muita discriminação no local de trabalho, nos restaurantes, lojas, depatos, escolas e outros locais públicos. Assim, muitos recém-chegados ao Japão têm de trabalhar sob duras condições em troca de salários baixos. Ainda mais se forem imigrantes em situação ilegal. Tenho dó de muitos iranianos, filipinos e outros que estão nesta situação.
Mas, mesmo nós, brasileiros no Japão, principalmente os não-descendentes, como eu e a Ana Bortz, que não carregamos os traços físicos orientais que evitariam, em parte, a discriminação imediata, já estamos começando a nos sentir excluídos e esmagados. Apesar disso, a angústia, o ódio, as indignidades e os sofrimentos pessoais resultantes de um ato discriminatório, preconceituoso, precisam ser considerados apenas como a vergonha e a desonra de uma chamada sociedade civilizada. Portanto, sigamos o exemplo de Ana Bortz, a única solução para acabarmos com esta vergonha.
(*) Publicado originalmente no jornal International Press do dia 29 de agosto de 1998.
Mais uma vez, a cidade de Hamamatsu, na província de Shizuoka, se transforma em palco para mais um espetáculo xenófobo. O último (?) caso, no qual Ana Bortz entra com processo contra o proprietário da joalheria por ter sido expulsa de sua loja pelo simples fato de ser brasileira, foi manchete desta semana em, pelo menos, dois dos "nossos" jornais daqui.
O caso em questão foi destaque na TV e em vários jornais japoneses, pelo ineditismo como a questão foi tratada. Ana Bortz é a primeira pessoa física, no Japão, a entrar com processo na Justiça contra outra alegando discriminação. Estamos aguardando ansiosamente o desenrolar dos acontecimentos com a expectativa de que se faça justiça.
Não há nada que crie, mais rapidamente, um muro de suspeita e intolerância entre o cidadão local e o estrangeiro do que o cego preconceito. Mal-entendidos e noções preconcebidas sobre outras nacionalidades, não raro, se baseiam em ficção em vez de em fatos. Os japoneses, em geral, parecem desconhecer o fato que o estreito contato com pessoas de outras culturas é recomendado como o melhor remédio contra o preconceito e a intolerância. Questão de política de boa vizinhança.
No entanto, até mesmo algumas autoridades admitem claramente que seguem uma política de exclusão. Por exemplo, quando o Conselho de Cidadãos de Hamamatsu ergueu o estandarte em defesa do direito dos estrangeiros ao kokumin hoken, o seguro-saúde emitido pela prefeitura, um vereador esbravejou contra: “Se não estão contentes, que tomem o avião de volta para seu país”. Parece que não querem que nos sintamos bem aqui, porque querem que voltemos para o lugar de onde viemos.
Os japoneses, de uma forma geral, não querem reconhecer que estamos aqui para formarmos novos laços para o futuro, e que estamos enfrentando o doloroso processo de sarar as feridas de nossas raízes cortadas, ao mesmo tempo em que carregamos a imensa tarefa de aprender uma nova língua. Cercados de tais sentimentos alienígenas, não é de admirar que nós, estrangeiros, enfrentemos uma muralha de preconceito da parte de lojistas locais que se sentem ameaçados pelo súbito influxo de estrangeiros.
Por causa da nossa condição de estrangeiros, sofremos muita discriminação no local de trabalho, nos restaurantes, lojas, depatos, escolas e outros locais públicos. Assim, muitos recém-chegados ao Japão têm de trabalhar sob duras condições em troca de salários baixos. Ainda mais se forem imigrantes em situação ilegal. Tenho dó de muitos iranianos, filipinos e outros que estão nesta situação.
Mas, mesmo nós, brasileiros no Japão, principalmente os não-descendentes, como eu e a Ana Bortz, que não carregamos os traços físicos orientais que evitariam, em parte, a discriminação imediata, já estamos começando a nos sentir excluídos e esmagados. Apesar disso, a angústia, o ódio, as indignidades e os sofrimentos pessoais resultantes de um ato discriminatório, preconceituoso, precisam ser considerados apenas como a vergonha e a desonra de uma chamada sociedade civilizada. Portanto, sigamos o exemplo de Ana Bortz, a única solução para acabarmos com esta vergonha.
(*) Publicado originalmente no jornal International Press do dia 29 de agosto de 1998.
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